terça-feira, 24 de outubro de 2023

Apoio Cultural de Emmanuel Franco Filho

Apoio Cultural

 

 

       (EMMANUEL FRANCO FILHO)

 

 
      (Suplementos Nutrina)

 

  

      (Musa Tropical Fruits)


Agronomia, Ensino e Empreendedorismo

 

Emmanuel Franco Filho, filho de Emmanuel Franco e Maria Oliveira Franco, nasceu em Aracaju, Sergipe, em 27 de maio de 1956. Cursou o primário no Educandário Brasília, o ginasial e o científico no Colégio Salesiano, ambos em Aracaju. Casado em segunda núpcias com a professora universitária Marly Magalhães Franco. Pai de duas filhas July e Dani e avô de quatro netos do primeiro matrimônio, Raphael, Lara, Maria Alice e José.

Em 1975, seguindo a história de seu genitor, engenheiro agrônomo, professor universitário, inspirador e incentivador, ingressou na Escola de Agronomia da Universidade Federal da Bahia – EAUFBA em Cruz das Almas. Como estudante exerceu a monitoria das disciplinas “Zoologia Agrícola, Microbiologia Agrícola e Fitopatologia”. Nesse período, também, foi presidente da Cooperativa de Estudantes de Agronomia. Decidido a seguir a carreira de seu pai, em 1980 foi aprovado em “concurso de provas e títulos” para o cargo de professor na EAUFBA. Para registro da história, o seu pai contribuiu como professor e pesquisador de duas pesquisas registradas nos Anais da Agronomia: o “anel vermelho do coqueiro e das palmáceas” e o cálculo do “ciclo das chuvas” do Nordeste. Trabalhos esses, que contribuem para a ciência agronômica e o desenvolvimento da agropecuária.

No ambiente universitário, acolheu o caminho do ensino e da pesquisa como vocação profissional. Em 1980, realizou a “Especialização em Sanidade Vegetal na Universidade Del Chile em Santiago e Valparaíso” e em 1982, concluiu o curso de “Mestrado em Fitopatologia no Colégio de Postgraduados em Chapingo no México” como bolsista da Fundação Rockefeller. Desempenhou de 1980 a fevereiro de 2015 o magistério das disciplinas “Fitopatologia, Microbiologia e Defensivos Agrícolas; Assistente da disciplina Fitopatologia no curso de Mestrado de Agronomia e Microbiologia Agrícola, Fitopatologia em Agronomia e Fitopatologia Florestal, todas na EAUFBA”. Também foi docente nas disciplinas “Plantas Infestantes, Empreendedorismo e oficina do Empreendedor na Universidade Federal de Sergipe – UFS, onde se aposentou,

Além de professor e pesquisador, exerceu outras atividades científicas e gerenciais, como “Vice-diretor da EAUFBA; Coordenador dos projetos Reflorestamento de Pequenos Imóveis Rurais no Convênio IBDF/IBAMA – UFBA; Programa Propef Rural da UFS; e da Fazenda Pirangi no Município de Capela, Sergipe, em parceria com a UFS; Consultor em Fitopatologia sobre o Anel Vermelho em dendezeiro na empresa Opalma/SA e UFBA; e na doença Queima da Saia do Sisal e Consultor em Agricultura Familiar e Agronegócios”. Publicou artigos em revistas científicas nacionais e internacionais em fitopatologia e nematologia.

Oriundo de uma família com tradição empresarial, carregou desde estudante o empreendedorismo na produção agropecuária, como consultor e proprietário de empresas. Na atividade privada é proprietário da “Agrocampo; Agrocamponês; Lojas Atakarejo – Sítios e Fazendas; e da Fábrica de Rações em Nutrição e Saúde Animal – NUTRINA”, estabelecidas no Estado de Sergipe.

Como cidadão, acadêmico e empresário, está vinculado aos movimentos da sociedade e da categoria dos engenheiros agrônomos. Participou da criação e dirigiu a ARDASE - Associação dos Revendedores de Defensivos Agrícolas do Estado de Sergipe; Membro da Sociedade Brasileira de Fitopatologia – SBF; e sócio da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Sergipe. Também faz parte do Grupo Repensar, composto dos engenheiros agrônomos Ednaldo Ribeiro Bispo, João Batista Medeiros, João de Souza Ávila, Japiassú de Melo Freire, Manoel Moacir Costa Macedo e Naum de Araújo, que tem como objetivo analisar e propor ideias visando o desenvolvimento da agropecuária sergipana. (Fim)



"Portugal e  minha avó cega" agradece o apoio na edição recebido do professor e empresário Emmanuel Franco Filho.

Em Aracaju, 03 de novembro de 2023  

(Assinado por): Domingos Pascoal (escritor e ativista cultural, autor dos “Vídeos da Viagem”) e Graça Melo (Magistrada e intelectual); João Medeiros (agrônomo, advogado, autor da “Projeto da Viagem”) e Lúcia Medeiros (funcionária pública aposentada envolvida em ações sociais); Antônio Saracura (escritor e autor da história) e Iracilda Pinheiro (pedagoga e dona de casa). 


 


quinta-feira, 5 de outubro de 2023

A FLUIDEZ DA BOA PROSA DOS ROMANCES

 A FLUIDEZ DA BOA PROSA DOS ROMANCES




(por Antônio Saracura)

(“Em verdade, em a verdade vos digo, que aquele que crê em Mim também fará as obras que Eu faço e as fará ainda maiores” (Evangelho de João,14,12)).

xxx 

Eu canto aqui os meus heróis sem pompa: feiticeiros, padres, filósofos, enfermeiros, visionários... Que passaram a vida curando cobras e gente: benzendo, impondo mãos, abrindo mares, fazendo rir, quebrando tabus e imagens, mudando vidas, perseguindo sonhos... Heróis sem pompa que conheci pelas estradas dos povoados bárbaros de Itabaiana, nas ruas perigosas de Aracaju e por desvios dessa vida aventuresca que vivi.

Moldei estátuas, cunhei medalhas e burilei troféus, na esperança de, junto com o leitor solidário, resgatarmos os heróis ignorados oriundos de nosso povo, que tanto precisa de heróis.

Os Curadores de cobra e de gente é um livro de poemas que preserva a fluidez da boa prosa dos romances. A métrica e a rima apenas dão cadência à leitura, compõem um fundo musical de pássaros trinando no arvoredo em volta.


“Vizinho ao nosso sítio
Na antiga Terra Vermelha
Numa casa pequenina
Nem dava trezentas telhas
Morava dona Cabocla
Que o povo chamava louca
Mas era apenas uma Velha,

Uma velhinha sabida
Com um poder diferente
Dos que o povo ali tinha.
Com a força da sua mente
E o benzimento com ervas
Nem precisava três rezas
Para curar um doente.

Eu em menino assistia
Bastante admirado
Mulheres chegando tristes
E homens de cenho fechado.
Dona Cabocla os benzia
E depois da liturgia
Todos se iam curados.

(trecho do livro, os rezadores)



Será lançado nos três dias da Bienal do livro de Itabaiana, continuamente. Dias 20, 21 e 22 de outubro no shopping Peixoto.

"Foguetes espocam longe...
Talvez no Pé do Veado!
É naquela direção
Não tem como ser errado
Pode ser algum paulista
— Êitha povinho banquista! —
Chegando endinheirado.

Parece que os pés de planta
De São Paulo dão dinheiro
Pois só assim se explica
Ficar rico tão ligeiro
Basta passar lá um ano
Chega vestido em bom pano
E com sotaque estrangeiro

Mamãe me disse, entretanto,
Quando fui lhe perguntar
Que o foguetório é no Rumo
O papocar vem de lá,
São os frades capuchinhos
No povoado vizinho
Chamando para rezar...

Todo ano eles vêm
Pregar a Santa Missão
Pois a paróquia é distante
Pouco nos dá atenção...
E nosso povo sofrido
Acorre agradecido
Em busca da salvação."

(Trecho do livro na parte que fala de A Santa Missão do Pé do Veado)

(Aracaju, 12 de outubro de 2017,
Mensagem do autor, em vista do pouco ruído causado pelos leitores).

24 BIENAL DE SÃO PAULO Primeira parte

 24 BIENAL DE SÃO PAULO

Primeira Parte -  Lições a Aprender




Marquei para o final da festa (ocorrida entre 26 de agosto a 05 de setembro de 2016, em São Paulo) a minha ida. Na semana anterior (28 de agosto), acontecia o aniversário da emancipação de minha terra, Itabaiana, e eu receberia a comenda Sebrão Sobrinho (a maior honraria que a cidade concede). Eu e mais dez ilustres, então me senti também.


Comprei as passagens (na promoção) e reservei um hotel conhecido (Ibs da São João) para os dias 2, 3 e 4 de setembro.




Uma tosse irritante e contínua, que começou duas semanas atrás, não parava nem que a vaca tossisse junto. Houve uma melhora, mas retornou com força na véspera da viagem. A poucas horas do embarque, à noite, fui a dois lançamentos. Um na sociedade Semear, de Expedito Souza e o outro, no Palácio Museu Olímpio Campos, de Gustavo Aragão. Não conseguia falar com os amigos, a voz sumia cada vez mais. Retornei para casa corizando, dando socos no peito. Para minha desgraça maior, choveu um pouquinho no trajeto curto entre a porta do Palácio Museu e o meu carro estacionado em frente à Assembleia.

Só um doido vai para o frio São Paulo nesse estado, falaram alguns amigos que ainda deixei em um e no outro lançamentos.

Cheguei em casa e dormi mal as poucas horas a que tinha direito. Uma da manhã, chamei o táxi e fui ao aeroporto. Se ocorresse uma crise até o embarque, retornaria. Minha esposa, companheira de todas viagens, olhava-me com reservas enormes. Ela queria ir à São Paulo. que é, quase, uma segunda pátria para nós dois. Mas temia, talvez, o mesmo que eu: os transtornos em um hospital frio longe do zelo familiar.

xxx

O avião desceu às seis da manhã. São Paulo estava nublado, um friozinho gostoso. A reserva no hotel só valia após o meio dia. Guardamos as malas e fomos fazer um horário nas ruas Santa Ifigênia, 23 de Maio e outras desse imenso shopping internacional. Minha esposa gosta e eu lhe fiz companhia, protegendo-me nas marquises, nas ante salas das lojas, todo encapotado.

Depois de ocuparmos o pequeno apartamento no hotel, rumamos ao Anhembi (Bienal do Livro) onde ficamos até às dezenove horas. Não aguentei mais do que isso. O ar condicionado esfriou muito e eu tossia sem trégua. Precisava assistir à palestra dos editores (Pedro Almeida, Rogério de Campos, Eduardo Lacerda e Plínio Martins). Os calafrios vinham chegando inapeláveis. Tive que abrir mão da chance de obter um editor para minha literatura. Deus toma com uma mão e, se tivermos fé, nos devolve depois em dobro. Estou esperando. 

Quem disse que dormi à noite?  Nem eu, tossindo e tossindo, assoando o nariz, encharcado lençóis de suor e enchendo bolsas plásticas de escarros. Tomei todos os remédios que trouxe de Aracaju, em dose dobrada, mas o inimigo continuava azedo, impiedoso. Nem eu dormi, nem minha esposa, nem os vizinhos, eu acho. Os pequenos apartamentos do Ibis São João (cokpits de pilotos de corrida) revelam as mais dissimuladas intimidades.

No sábado, de olhos vermelhos, às 10 horas, eu estava, outra vez, no Anhembi, mas sozinho. Minha esposa ficou na cidade, foi às compras, em outras áreas que ela conhece bem. Dispensou minha proteção que, a bem da verdade, não vale quase nada. Especialmente, nesse lastimável estado de saúde. Livrou-se de mim, e eu me senti confortável, livre também de sua preocupação. Sempre estou tentando, inutilmente, freá-la em alguma compra.

Não aguentei ficar na Bienal até as dezenove horas conseguidas na sexta. Bati em retirada às 15 horas. O ar do Anhembi ficou muito frio.  Frio demais para mim. Aquela multidão, que deu trabalho para romper até a saída, nem ligava. Zoava ávida querendo livros, autores, ídolos. 

Passei a noite tossindo, mais do que na anterior, mesmo com xarope em dose dupla comprado na drogaria são Paulo, receitado pelo balconista. Se não tivesse encontrado, sobre o beliche, dois grossos cobertores de lã, eu teria perecido nos mares glaciais que me afogavam.

Como ir para qualquer lugar depois de uma noite dessas? Fiquei de repouso. Afinal era domingo. Deixei meu corpo amarrado na cama, querendo arrancar-se, mesmo sabendo que não suportaria o Anhembi. Perdi o último dia da bienal, roendo-me na indecisão entre procurar uma urgência médica ou me guardar até a hora do retorno a Aracaju.

xxx

Avião lotadíssimo e eu lá nos últimos bancos, na fila 25, tentando não tossir tanto, mas fazendo mais ainda. As pessoas, em torno, deveriam estar incomodadas e, talvez, se perguntassem: “o que vai fazer esse doente de férias em Aracaju?”. Minha esposa, ao lado, me repreendia com beliscões íntimos. Rezei para o avião chegar logo em Aracaju, também queria escapar desse tubo infectado.
Ainda bem que protegia a boca e o nariz com um cachecol caído do céu. Não é época de cachecol, só eu uso. Estava no bolso do blazer, esquecido talvez pelo dono anterior.

Teve razão aquela anciã com cara de índia canibal ao me olhar demoradamente no saguão de embarque. Não tive como escapar de seus olhos, que inqueriam em silêncio: “que armada é essa, és doido ou és deslumbrado?” E eu, intimidado, pedindo perdão a todos os entes, da mesma forma, com os olhos fixados nos olhos dela, apontei meu pescoço e tentei tossir. Mas a tosse não saiu.

Aracaju, 07 de setembro de 2016, por Antônio FJ Saracura.

Observação 
Trazido de Sobre Livros Lidos em 05/10/2023 com 1951 leituras 

24 BIENAL DE SÃO PAULO, - Final

 24 BIENAL DE SÃO PAULO,

Final - Lições Aprendidas




O que eu fiz na bienal de São Paulo, mesmo bombardeado pela gripe ou sei lá por qual desgraçada doença que peguei sem querer e da qual não consigo sarar? Em flashes rápidos...



É uma festa da cultura, com muita gente visitando, comprando. Editoras mostrado pujança com seus títulos, muito mais americanos como nos cinemas: Companhia das Letras, intrínseca, Saraiva, Panini, Leya, Cortez e muito mais. Espaços para explosão da cultura retida no País inteiro. Patrocinadores (imagino que sejam): Banco Itau, Sesc/Senac... Restaurantes cobrando cinco reais em uma água mineral e vinte e cinco em qualquer misto quente. Os números divulgados pelo organizador, CBL, impressionam:

Investimento de R$34 milhões, mesmo valor de 2014; 1300 horas de programação; Expositores: 280, sendo 650 selos e 35 com países representados: Alemanha, China, Portugal, Japão e Itália; 28 editores/escritores independentes na Travessa Literária; 388 atrações: 370 autores nacionais e 18 autores internacionais;Treze espaços culturais: Cozinhando com Palavras: 49 apresentações e 53 convidados; Arena Cultural: 30 mesas e 49 convidados; Salão de Ideias: 39 mesas e 97 convidados; Estande da Comissão para a Promoção de Conteúdo em Língua Portuguesa – o espaço de 120m² apresentou uma amostra da exposição Menas o certo do errado e o errado do certo, do Museu da Língua Portuguesa, de 2010; Bibliosesc (Praça da Palavra e Praça da História): Cerca de 86 apresentações e 272 convidados; Auditório Edições Sesc São Paulo: 21 atividades e 52 convidados; Espaço Oficial Infantil – Mauricio de Sousa BIC: 500 m² com diversas atrações durante todo o período do evento;  Espaço Ignácio de Loyola Brandão: 6 mesas e 16 convidados ; Espaço Cordel e Repente: 85 atrações e 40 convidados;  Arena de Autógrafos: 42 atrações; Espaço de Autógrafos 1 – Sergio Machado 24 atrações; Espaço de Autógrafos 2 – Jair Canizela – 14 atrações; Área total: 75 mil m²;Transporte: 40 ônibus gratuitos dos terminais PortuguesaTietê e Palmeiras Barra Funda; Visitação escolar: 118 mil alunos, 1710 escolas).

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Parei na Universidade Zumbi dos Palmares e uma mulher negra ao violão cantava belas canções de protesto. Era uma hora de pouco movimento. Depois, no intervalo, ela disse: “Sou Bia, de Sergipe, de Aracaju”. O meu sangue ferveu orgulhoso. Ao terminar o show, comprei seu cd e dei-lhe de presente “Meninos que não queriam ser padres” e ainda agradeci: “obrigado pelo orgulho de ser sergipana! Eu também sou de lá, de Itabaiana”. Abraçamo-nos no meio dos fãs da cantora que queriam tirar fotografias.

Uma senhora que, junto, ouviu as confidências, encostou, depois, em mim: “Eu quero comprar esse livro de capa bonita, pois sou de Sergipe, moro em Santos há quarenta anos”. O que você faria no meu lugar?

Entrei na Estação do Sesc São Paulo. Um bate papo agradável, até informal. Três monstros interagindo, contando suas aventuras e desventuras e, especialmente: por que e como ser escritor? Marcelino Freire (o animador), Lira Neto e Fabrizio Capenejar. Uma hora inteira viajando com eles pela vida, parecida com a de qualquer escritor desse Brasil leitor. Mas eles conseguiram um editor para publicar, divulgar e vender suas obras. Carpinejar é festejado no Brasil inteiro. Publicou vários livros, como "Amor à moda Antiga". Mantem colunas nos jornais do sul. É um ícone, vive da literatura. Sempre o vejo em Fátima Bernardes na Globo. Lira Neto produziu Getúlio Vargas, Maysa e Padre Cícero Romão Batista... Bastaria um para ser deus. Marcelino Freire é autor de Contos Negreiros e muitos outros, é ativista intelectual em São Paulo há anos. Desfeita a mesa, uma foto ao lado de cada um e, aproveitando o ensejo, ofereci “Meninos que não queriam ser padres”, com uma dedicatória insinuante. Talvez nenhum dos três leia meu livro. Mas livro é semente, cairá na mão de algum leitor, fatalmente.

Por que não esquecer um exemplar aqui nesse banco, onde as pessoas param por um minuto? Escrevo a dedicatória: “o autor acha que este livro, que é seu, marcará a Bienal pela vida toda”. À frente, alguém me puxa pela camisa: “O senhor esqueceu essa bolsa lá atrás num banco!

Eu precisava de uma base para trabalhar. Não era prudente sair oferecendo livros pelos corredores. Poderia ser expulso de campo. Ou mesmo “esquecendo-os” ante tanta gente honesta. Havia um espaço, projetado em Aracaju, na visita que fiz, na véspera da viagem, a Gil Francisco. Ele telefonara à Segrase, conversara com uma secretária: eu poderia ir ao espaço ABEU, levasse alguns exemplares de “Minha Querida Aracaju Aflita” que estava esgotado na editora. A Segrase/Edisa agradeceria.  

Este era o porto da esperança. Depois de muito procurar, vi que não passava de um cantinho de nada, no grande stand de outras editoras e universidades do Brasil. Não havia ninguém da Segrase, apenas funcionários burocráticos que não sabiam informar nada. Penetrei em suas águas cinco vezes na sexta-feira e outras tantas no sábado e não vi sinal dos conterrâneos. Tobias Barreto, com toda sua sabedoria, jazia como um anônimo irrelevante em uma prateleira abaixo da vista. Abandonado a própria sorte, como outros sergipanos menores que me pediam, com olhos compridos,  ajuda para se mostrarem à grade feira.   

Eu trazia cinco exemplares de "Minha Querida Aracaju Aflita" como “tapia “para negociar “Meninos...”, único livro que levara com esse fim. Mas não vi como executar o plano. Tirei uma foto. Primeiro da prateleira original com Tobias e os demais. Depois, plantei "Minha Querida Aracaju Aflita" e bati outra, como gostaria que ficasse. Não tive coragem de me colocar no vão onde Tobias me olhava intrigado. Ao recolher meu exemplar emprestado, uma funcionária veio-me questionar, por que eu estava retirando um livro. Ainda bem que pedira autorização à outra que estava perto. Safei-me. Levantei âncoras e fui prospectar outros pontos da costa.

Encostei nas terras do Islã, que também ocupava um largo trecho dessa costa cristã. Observei o risco de entrar na baía em sendo de outra religião. Apenas fotografei "Meninos que não queriam ser padres" ao pé de um navio muçulmano e segui em frente.

Cordel e Repente...Um grande salão de festas, com muitos artistas circulando, recitando, vendendo. Poetas, cantadores, artistas renomados. A Câmara Cearense do Livro arrumou um meio e veio à Bienal do livro de São Paulo brilhar com suas estrelas. Eu ia passando e parei. Chico Pedrosa recitava para um pequeno público, o poema: "O Vendedor de Berimbau". Como seguir em frente? Depois, fiz amizade e trocamos livros. Coube-me Sertão Caboclo e à ele, o surpreendente Meninos, no meu modo de falar. O ambiente era propício e puxei conversa com cada um dos cento e tantos vendedores de poesia. Arievaldo Viana apresentou-me “Sertão em Desencanto” e eu defendi-me com os “Meninos”, minha arma de confiança. Por que perder uma chance dessas? E Aderaldo Luciano entrou, virtualmente, pois Vianna é seu parceiro em muitas empreitadas pelo Brasil, divulgando a poesia brasileira, que alguns racistas chamam apenas de cordel.

Navegar (bater pernas) é preciso. E encontro, finalmente, sergipanos que ainda moram na terrinha. Clóvis Barbosa, o articulista de meus domingos gratificantes, lanchava  em uma mesinha improvisada, cercado por sacolas de livros. E dentro delas, certamente, não estava “Meninos que não Queriam ser Padres”. Que injustiça! Na hora, garantiu-me que nunca o lera. Deixei-lhe a melhor prenda, na minha opinião, que conseguiu na Bienal. A humildade é uma forte característica dos filhos de Itabaiana, especialmente do povoado Terra Vermelha, lugar de gente convencida.

E, mais à frente, no espaço e no tempo, bato-me com um itabaianense que pouco conheço e talvez nem saiba quem sou. Lindolfo Amaral, do grupo teatral Imbuaça que encanta com suas apresentações antológicas; irmão de Antônio Amaral, do Cataluzes, este meu conhecido há algum tempo. Em plena Sampa. “É você mesmo?”. Lá se foi mais um “Meninos...”, com a garantia de que valia a pena ler. Por que não deixei a entrega para Aracaju?  Um repente! Como fazer para agir friamente na vida.

A Travessa Literária é o espaço dos escritores independentes. Poucos stands, somente 28. Escritores, na sua maioria, apáticos e dorminhocos. Livros de nichos bizarros: havia um poeta com uma brochura mal acabada: poemas feitos nos desvarios alucinógenos. Havia outro, de cara amarrada, com material similar, tratando de um ovo frito. Em outro stand, uma jovem caracterizada oferecia um romance juvenil a uma pequena fila interessante. Se ela me apertasse, eu compraria um para mim.

Passei muitas vezes por essas águas, conversei com e outro e, finalmente, no sábado, por volta do meio dia, ancorei meu barco de vez. Apesar de sábado, era um horário sem rush, muita gente nos restaurantes, cansada, sentada ao longo dos corredores, à beira dos stands expositores.  E descarreguei dez “Meninos”, minha carga de cada dia. Os próprios meninos misturaram-se aos nativos e começaram a vender irrecusáveis encantos. Era o último stand da direita, o dono não havia aparecido ainda. Um vizinho veio me reclamar de invasão. Perguntei-lhe se o sítio era seu, por acaso. Saiu rascando. Em meia hora, vendi 9 livros, porque segurei o último para pagar pelo uso do espaço invadido.  Mas o dono não apareceu até as quinze horas quando tive que retornar ao hotel por motivo de doença, como disse em oura crônica.

Depois dizem que o brasileiro não lê!

Todos estes visitantes estão em busca do quê?

Por que se produz tantos livros se não há leitor?
Como há gente querendo ler um bom livro nesse Brasil! Corredores lotados, filas aos caixas, nos lançamentos. E como há livros querendo ser lidos! Prateleiras, tablados, gôndolas apinhados.

Senti nos olhos das pessoas uma alegria imensa por estarem participando da Bienal de São Paulo. A mesma que eu desfrutei e que ainda saboreio.

O livro precisa ser mostrado, oferecido. Eu sei, já experimentei também em outras oportunidades. Os livros de Sergipe, mesmo os bons, serão comidos pelos cupins nas casas de seus autores ou na estantes dos amigos que foram ao lançamento. Precisam ser vendidos, agressivamente ofertados. As Bienais, como estas, se prestam bem para esse fim. Escrevemos e publicamos para quê?

Assim como fez o Ceará, precisamos organizar um grupo de escritores dispostos, obter algum financiamento e ir à toda feira literária que for possível pelo Brasil. Quem sabe a Federação das academias de letras que Domingos Pascoal de Melo, o semeador de academias, coordena, não nos ajude a conseguir esse intento?

Aracaju, 07 de novembro de 2016, por Antônio FJ Saracura.

Observação: 
Trazido de Sobre Livros Lidos em 05/10/2023 com 1917 leituras 

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

SOBRE LIVROS LIDOS, O BLOG, Antônio FJ Saracura

 SOBRE LIVROS LIDOS, O BLOG, Antônio FJ Saracura, escritor da Academia Itabaianense de Letras, afjsaracura@gmail.com)



Fui, outro dia, ao lançamento do livro, “Aracaju meu Encanto”, de Perolina Mariani Bensabath, na igreja Batista da Coroa do Meio, em Aracaju. Uma cerimônia familiar, íntima. A autora é uma senhora de 87 anos, e, frequentou, tempos atrás, as reuniões da Academia Sergipana de Letras, divulgando outro livro, que falava de sua vida, uma pequena epopeia. Rascunhei, na época, rápida resenha sobre o livro dela. Nunca mais soube de Perolina, até ser surpreendido com o convite ao lançamento de que falei acima.

Escrever resenhas... Uma missão espinhosa...
Mas muito importante para o autor do livro resenhado.

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Como fez dona Perolina à mim, faço-lhes um convite. Visitem o blog: “Antônio Saracura sobre livros lidos”. Ele acaba de nascer. Tem meladinha, como convém à casa de mulher parida. E vocês podem dar uma cachimbada, com direito a limpar na barra da saia ou na perna da calça, o sarro do cachimbeiro anterior.

O blog acaba nascer, mas já possui algumas dúzias de resenhas, a maioria sobre livros de autores sergipanos vivos. Talvez sejam mesmo simples considerações de um leitor compulsivo, confuso e acossado por uma multidão destas considerações (ou resenhas) geradas numa vida inteira. Acossaram-no com toda razão. Viram-se na iminência de se perderam na “broquice” do autor (a idade é malvada!) ou na insensibilidade (sempre provável) dos herdeiros, em fogueiras no quintal, após a morte dele, como se fossem “nutilidades”.

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Nos meus velhos diários, agora delidos, há relações de títulos de livros lidos. Seriam para marcar ponto numa competição individual ferrenha? Talvez para não recomprar o mesmo livro, ou não reler começos.

Numa fase seguinte, eu anotava também os pontos principais dos livros lidos. E até publiquei alguns destes no jornal “A Cruzada” nos idos de 1966, 67 e 68.

Quando estive na faculdade, eu elaborava fichários (benditos fichários!), organizados alfabeticamente. Um professor passou-me o know-how ao ver minha aflição, perdido em cadernetas desmolongadas e em folhas soltas.

Há alguns anos, o computador chegou e mudou meus métodos. O word ficou meu amigo, anjo da guarda, assessor contínuo, inseparável.  E toda aquela parafernália manuscrita anterior, eu pude congelar, “abandonar”. Passei a fazer minhas anotações sobre livros lidos eletronicamente. E até publiquei algumas dessas anotações, que as chamei de resenhas, na Revista Perfil de Itabaiana, nos últimos cinco.

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Escrevo resenhas às carreira, à partir de rabiscos nas bordas dos livros que leio. Chamo-as inicialmente de anjinhos sujos.  Do bem ou do mal. Arquivo-as brutas, com palavras truncadas, em um limbo seguro ao meu alcance.  Faço resenhas porque preciso. Como uma defesa. Não nasci com a memória fotográfica de meus parentes das Flechas e da Matapoã, a exemplo de Sizino de Candinho, Florita de Totonho ou Genário Ferreiro. Genaro está no youtube com cerca de vinte declamações geniais. Impressionante!  

Além do que, aprendo mais copiando do que lendo ou ouvindo. Mesmo quando o professor proibia, eu anotava, camuflado, os pontos principais de suas aulas. Problemas de matemática ficavam claros ao copiá-los em meu caderno de dever.

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Reitero o convite para visitarem o Blog: “Antônio Saracura sobre livros lidos”. Ele é filho dessa última fase, a digital, a eletrônica.

Quando me sobra um tempo, vou ao limbo pegar um desses anjinhos sujos. Converso com ele, dou-lhe um banho, boto-lhe uma roupinha branca, um par de asas e trago-o ao blog. Cada anjinho desses é uma nova resenha. Há um problema que estrou tentando evitar. Quando vou ao limbo buscar um anjinho, outros querem vir comigo. Mas eu só consigo aprontar um por vez.  É o meu limite. O diabo é que eles estão ficando espertos.  Um clandestino, escondido em alguma dobra do papel ou embaixo das notas de rodapé do editor de textos, vez por outra, vem junto. Inconveniente, apressadinho. Eu percebo tarde demais.  Brutinho como foi feito, sem nenhum acabamento literário, ele pula dentro do blog logo que pode, misturando-se, escondendo-se atrás dos outros. Demoninho!  Por isso é que algumas resenhas estão mal acabadas. Até ofensivas. Peço a vocês que, em as vendo, me avisem para que eu as arrume adequadamente.  

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Autores precisam conhecer a opinião dos leitores de sua obra e podem até morrer com o silêncio do público. Eu mesmo só sobrevivo porque as pessoas falam, aqui e acolá, sobre os livros que publico. E viveria bem melhor, se mais falassem.

Além de visitar o blog, digam coisas (boas ou ruins) sobre o que viram. Critiquem! Não se sintam pejados nem constrangidos. E não relutem em dedurar os inconvenientes sujinhos.

É bom para a nossa literatura que o blog viva. Arrisco supor! E que nasçam outros blogs (ou seções em revistas e jornais) com resenhas dos livros que publicamos.

Observação
Trazido de Sobre Livros Lidos em 04/10/2023 com  1909 lituras 

FRAGMENTOS DA 23 BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO

 FRAGMENTOS DA 23 BIENAL DO LIVRO DE SÃO PAULO, Antônio Saracura, São Paulo de 23 a 31 de agosto de 2014




Eu estive lá. O que vi, não caberia cinco páginas inteiras. Catei alguns fragmentos, como cavacos secos para acender a fogueira da nossa III Bienal do Livro de Itabaiana, que está confirmada para Outubro de 2015.

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As editoras estavam arrumadas em filas, das mais badalada, às iniciantes, de quem nunc a ouvira falar. Livrarias (com o acervo nobre e a bagaceira descartável). Chamou-me a atenção stands enormes e vazios das associações de escritores (onde estariam os sócios que pagaram?).

Palestras, debates, oficinas.
A “Arena Cultural”, o maior de todos os palcos, em contato direto com o zoar da feira, onde se apresentaram as estrelas, como Maurício de Souza. A Praça da Palavra, o Salão de Idéias, a Escola do Livro, Cozinhando com Palavras, o Espaço Imaginário, a Praça de Histórias.
Assisti à alguns debates: “O Território da Língua Portuguesa” onde estiveram Abdulai Sila, da Guiné Bissau, a portuguesa Inês Pedrosa, Luiz Rufallo, brasileiro; todos sob a batuta da brilhante Suzana Ventura.  Depois, “Cinema Militante, a Crítica Visual do Mundo”, onde Tatá Amaral (Um Céu de Estrelas) admirável, ponteou. Em “Das Páginas Para a Tela”, senti a correria dos roteiristas da televisão: Maria Adelaide Amaral, George Moura e Marçal Aquino, tanto que se me arrefeceu o ânimo de presenteá-los com exemplares de meus livros. Não têm tempo nem de ir ao sanitário desafogar-se das urgências inevitáveis. Ouvi enlevado Sally Gardner, escritora inglesa que faz sucesso num mundo infantil.
E muito mais incursões...
Eu precisava ver com as mesas se conduziam. A flutuação e comprometimento das platéias. Nada muito diferente do ocorreu na II Bienal do Livro em Itabaiana. E não estou sendo pretensioso!
Público... Gente demais para o espaço. Na semana: escolas primárias enchendo os corredores, conduzidas por professores, cantando hinos de guerra. Cada criança com os olhos acesos, inebriada, e levando uma bolsa de livros à tiracolo. Mais tarde, exausta, sentadinha junto às paredes mortas dos stands, esperando a hora de ir para casa. Batismo de foto cultural, benzimento com livros, sementes enterradas no momento certo. Havia gente madura, inclusive eu. Senhoras com carrinhos de feira, desfilando, atropelando outros carrinhos entupidos de livros. Bati-me com um senhor de Londrina do Paraná, que disse se chamar Roque, estressado porque não conseguia mais socar livros no seu carrinho saturado.  Mesmo assim, joguei “meu latim” e ele comprou: “Os Tabaréus do Sítio Saracura” e “Tambores da Terra Vermelha”. Quem mandou se abrir? Venda clandestina, para testar minha veia mascate.
Os escritores estavam nos stands das editoras, fazendo palestras, declamando poemas, lendo crônicas. E em outros espaços que surgiam dinamicamente ou foram criados mesmo para isso. Autografando livros. Fiquei abismado com as filas de jovens, centenas, em uma área para estrelas maiores, buscando um autografo de Carina Rissi (Perdida, Encontrada), Eduardo Spohr (A Batalha do Apocalipse), só para citar dois, e nacionais. Esse povo lê, especialmente livros escritos para eles, cheios de sonhos. Bons produtos são ansiados. Uma ânsia natural ou gerada pela mídia, pelos eventos culturais, pelas bienais.
Cida, minha esposa, que lê, em primeira mão, os livros que publico, comprou “A Arma Escarlate”, e recebeu da autora, Renata Ventura, um expressivo autógrafo: “perceba toda a magia que há dentro do Corcovado. Um grande abraço, RS”.

(Antonio FJ Saracura)

Obs:  Trazido de Sobre Livros Lidos em 04/10/2023 com  56 leituras

VII BIENAL LIVRO DE ALAGOAS (feira),

 VII BIENAL LIVRO DE ALAGOAS (feira), Antônio Saracura, novembro de 2015, em Maceió Alagoas



Acho que o escritor tem a obrigação de divulgar suas obras. De que valeu o esforço imenso de criá-las, o custo sacrificante de publicá-las e, ao final, não ser lido? Muitas moças casam com vizinhos simplesmente porque os pais não as levaram aos salões da sociedade. Não que os vizinhos sejam ruins maridos! Mas as moças poderiam ter casado melhor. O autor (ou  seu preposto, como a editora, o marketeiro) tem que divulgar seus livros. Nenhum leitor é adivinho para saber que ele acabou de publicar de novo.
Considero meios para este fim:  os Encontros Literários (que envolvam público em geral, não apenas autores), as Feiras literárias, as livrarias da cidade, os cadernos culturais da imprensa, as redes sociais. Por isso procuro frequentá-los. Por isso fui a VII Bienal do Livro de Maceió, entre os dias 27 e 29 de novembro último (2015). Os três últimos dias dos dez que a compôs. Fui até à de São Paulo, que aconteceu no ano passado. E à de Paulo Afonso... À feira de Itabaiana eu sempre vou.

Xxx

Como divulgar minha literatura em Maceió? Eu não conhecia ninguém, não possuía base de apoio (até tentei pela internet uma livraria, Beabá, mas não concluí a parceria). Ainda em Aracaju, busquei alternativas e obtive uma vaga promessa de um espaço na praça de autógrafos. Duas horas no meio das feras, na arena dos leões era pouco demais. Para ficar sozinho, quanto menos tempo melhor, consolava-me. Eu tinha agora, pelo menos,  uma desculpa para não desistir,  e fui em frente.

No dia 27 entrei no pavilhão Ruth Cardoso já depois das 15 horas. A viagem e a arrumação de pousada (fui com minha esposa dedicada) atrasaram-me além do que gostaria.  Muita gente circulando, os corredores cheios; ruas imensas de stands, quase todos vendendo/divulgando livros. Depois me falaram em uma centena.  Circulei em busca de gente conhecida, para ancorar um pouco. Era uma terra estrangeira, apesar de tão perto de Aracaju. Temi ter perdido a viagem de vendedor, então me contentaria com a de observador. Ou seria turista, algo mais passivo. Havia o mar azul de Maceió a desfrutar. 

Já que me alistara para a guerra, peguei minhas armas, meus panfletos (simpáticos marcadores de página com informações sobre meus livros) e, timidamente, ou falsamente tímido, comecei a entregar a um e outro por quem passava. E fiquei nesse labor até as 21 horas quando retornei ao hotel. Colhi alguns frutos, como um papo ligeiro com alguém que me perguntou por que fazia aquilo. Apesar de estar com meus livros na sacola que carrega nas costas e tê-los mostrado aqui e acolá, não vendi nenhum neste primeiro dia. Mas dormi satisfeito, pensando e confiando na missão dos dois dias seguintes.

No sábado pela manhã fui à praia e apenas após as 15 horas  à Bienal. Mudei a sacola das costas para o peito, escondendo a barriga saliente. Ficava mais ao alcance, e formava uma mesinha na qual expus os dois títulos que levara: Os Tabaréus do Sítio Saracura, e Os Ferreiros. 
E comecei a trabalhar.
Estudava as pessoas, o jeito, a postura, tanto visitantes como expositores. Timidamente, mas com firmeza, entregava-lhes o marcador de página e tentava uma conversa. Consegui muitas vezes, e oferecia meus livros como uma boa e agradável leitura.Não estava enganando, pois gosto deles. O vendedor que não oferece seu produto, certamente não venderá. 
Vendi alguns livros, autografei.
Também conversei com editoras, anotei contatos, comprei livros a um real (ou mais um pouco), assisti palestras (Jessier Quirino), fiz amizades. Finalmente encontrei pessoas conhecidas (Samuel Albuquerque, do Instituto Histórico de Sergipe; Edivaldo Feitosa, de Água Branca que conhecera em Paulo Afonso; Ron Pelin que é Ronaldo Pereira, consagrado autor de A Menina das Queimadas; e um ex-funcionário da biblioteca volante do Sesc de Aracaju (esqueci o nome, mas comprou Os Ferreiros porque Os Tabaréus ela já tinha em casa).
O domingo foi igual ao sábado, já me sentia senhor de meus passos e de minhas investidas. Quando chegou minha vez na praça dos autógrafos, o público já saía da feira, ia embora devagar. Bem que Antenor Aguiar (fora à Bienal nos dois primeiros dias) vaticinou: quando chegar sua vez, a Bienal estará vazia.
As mesinhas reservadas para os escritores darem autógrafos estavam todas ocupadas desde o começo da tarde, eles queriam continuar tentando vender. Eu estudara antes o espaço, a mecânica do lugar, ao passar algumas vezes por ali. Havia uma escada mais à frente e a usei, arrumando meus livros nos degraus da lateral exposta à alameda por onde saiam todos indo embora. Afixei um banner no ponto mais alto que alcancei. Estava montado o cenário e comecei a atuar, abordando as pessoas, tomando suas frentes com meus marcadores, meus livros e minha pregação. Algumas paravam, ouviam, compravam o livro de despedida, a saideira da sorte.

Os autores das mesinhas vieram me chamar para perto deles. Deram-me um cantinho, compartilhando o espaço. Continuei meu trabalho, contaminei o grupo. Ficamos, eu e os escritores, até 22 horas, quando os stands já estavam sendo desarrumados. E então, como não havia mais comprador, trocamos livros uns com os outros, selando uma amizade que certamente será duradoura, estaremos em outras bienais por esse mundo afora. Serão meus pontos de apoio, mesmo que, como eu, sejam tábuas perdidas do meio do mar. 

Trazido do Sobre Livros Lidos em 04/10/2023 com 47 leituras

VII BIENAL LIVRO DE ALAGOAS (livros),

 VII BIENAL LIVRO DE ALAGOAS (livros), Antônio Saracura, novembro de 2015, em Maceió Alagoas.



Um dos expositores disse-me que havia cem stands, como os dois que alugara, vendendo livros a preços módicos. Concorrência pesada. Comecei a contar, mas me perdi por volta dos quarenta e sete. Ele era originário de São Paulo, de onde trouxe duas carretas de livros. Esperava retornar com farinha de mandioca, tapioca para beiju e coco da Bahia. Assim como esse, outros vieram do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte, do Brasil todo. São mascates de bienais.
- Como consegue vender livros a um preço tão baixo?
Referia-me ao stand onde todos os títulos custavam um real. O empresário respondeu:
- Trabalho com distribuição de livros de várias editoras. A maior parte desse acervo é formada de saldos vencidos, sobras de estoque, títulos fora de moda. Mas, no meio, há muito livro atual, para atrair e conferir credibilidade ao negócio.
Fui conferir os tabuleiros de livros. Como resistir,se sou, desde pequeno, rato de livraria? Comprei alguns queijos, entre os quais: 
“Juiz de Paz da Roça e outra peças”, de Martins Pena.
(Textos integrais do fundador do Teatro Nacional. Além da peça do título, inclui 
Quem Casa quer Casa e O Inglês Maquinista).

“Primeiras Vezes e o Primeiro Momento”, de Amir Matos.
(Muito curioso; lista todas as primeiras vezes em que aconteceram fatos no Brasil e no mundo).

“Cabeça de Bagre”, de Ari Riboldi.
(Traz uma coletânea de termos, expressões e gírias do Futebol).

“Gírias de Todas as Tribos”, de Karin Fusaro.
(todas as gírias usadas pelo povo, organizadas por segmento que o autor chama tribos. Karin é colunista do Estado de São Paulo e tem programa na Rádio Eldorado AM).

E outros...

No último dia da feira, aquele stand com livros a um real, abaixou para três por dois reais. Clientes saíam de saco cheio (no sentido lato da expressão).
Em outro stand, comprei “Terra Vermelha”, de Domingos Pellegrini, autor premiado com o disputado Jabuti. Paguei somente dez reais. Este livro é um trava em meu olho, pois tive que arrumar um novo título para o livro que escrevi sobre meu povoado em Itabaiana, que se chama Terra Vermelha. Mas Pellegrini chegou primeiro, contando a saga dos pioneiros que desbravaram o Paraná e ergueram uma das maiores cidades do Brasil, Londrina.
Não abri mão da “Terra Vermelha”, mas acrescente-lhe “Tambores” para remeter o leitor ao passado também heroico. E Tambores, por sua vez, também foram uma trava, no outro olho, na fase de batismo do meu livro. É que Josué Montello já escrevera um clássico chamado “Os Tambores de São Luis”.
Tanto o livro de Domingos como o de Josué, li-os na fase de nomeação do meu. Ao final das leituras, resolvi convidar, à revelia dos autores, os dois sucessos literários, “Terra Vermelha” e “Tambores de São Luiz” para serem padrinhos simbólicos do meu “Tambores da Terra Vermelha”, que se transformou em um sucesso também. As pessoas dizem-me que acabaram de ler um dos melhores livros de suas vidas. Eu acredito na sinceridade das palavras e do gesto. Quem, se não tivesse um motivo forte, sairia correndo, após ou no meio de uma leitura, para elogiar a obra de um autor desconhecido?
Mas retornando a Bienal, para encerrar logo esta crônica que não quer acabar.
Comprei livrinhos de cordéis de Jorge Calheiros (estava com um movimentado stand), de Salvano Gabriel, de Marinalva Bezerra de Menezes (Querindina) e de Antonio Rocha (Macambira). Estes dois últimos circulavam nas alamedas caracterizados com seus chapéus de meia lua e me lembraram dois menestréis encantados...
Do grupo de autores que disputou comigo os clientes que saíam correndo da Feira, no último dia, nas últimas horas, eu consegui, via escambo mesmo:
“Inesquecível”, de Mônica Oliveira, um romance que ultrapassa a barreira do tempo (ainda não li).
“Cantos Perdidos”, de Cleide Vanderley, poesias e contos (que está no escaninho de leitura de minha esposa).
“Um amor inesquecível”, de Samuel Soares, romance de um autor de 14 anos (ainda não li, deve ser novo demais para meus setenta).
“Mágoas Amargas”, de Djalma Araujo da Silva Gama, um carequinha maduro (como eu) com um romance massudo que promete muito, pelos trechos que pesquei ao léu.
“Enquanto as Nuvens Passam”, de Zélia Tenório de Araujo, uma poetisa do lar assim como Cora Coralina, com família criada, mãe do doutor Evilásio Filho, Juiz de Direito atuando em Sergipe (Propriá). “Se alguém me escutar, direi: nada foi em vão”.
No apagar das luzes, quando fui pagar os cinco reais do estacionamento, encontrei um escritor conhecido de outras bienais e feiras literárias (Bienal do livro de Itabaiana), Ronaldo Pereira, o Ron Perlin premiado pela Secult em 2010 com o livro “Laura”. Como sempre, ele estava acompanhado da digníssima esposa, ela e ele professores em Cedro de São João, Sergipe. Ronaldo retirou do bornal o livro “Viu o Home?”, fez uma dedicatória, e deu-mo, sem cobrar nada. Foi o mais barato de todos.

É um livro de crônicas engajadas, falando de política e das pilantragens nela. Li quase todo. Uma leitura agradável: séria, leve, divertida. Ingredientes conflitantes, mas bem administrados pelo autor.

Observação 
Trazido  de Sobre Livros Lidos em 04/10/2023  com  60 leituras 

DISCURSO DE RECEPÇÃO AO ACADÊMICO SARACURA NA ASL

 

DISCURSO DE RECEPÇÃO AO ACADÊMICO ANTÔNIO FJ SARACURA

 DISCURSO DE RECEPÇÃO AO ACADÊMICO ANTÔNIO FJ SARACURA, por Vladimir Souza Carvalho, em 31 outubro se 2016






Ei-lo que chega. Camisa fora da calça, chapéu - que, aliás, varia, como se tivesse uma coleção - na cabeça, o bigode a separar a boca do nariz. Quem o vê assim há de dizer, e, com absoluta razão, se cuidar de um tabaréu, tabaréu autêntico do sítio Saracura, no povoado Terra Vermelha, de Itabaiana, onde ressalte-se, nasceu, estendendo seus passos pelos povoados Flechas e Matapoã, os três territórios transformados em seu pequeno grande mundo. E, se colocado na paisagem de um sítio, em meio à plantação de mandioca, o capim reservado para o alimento do cavalo, a enxada na mão, a roupa suada e suja, todos hão de ter a mesma conclusão.





No entanto, ninguém de há pensar, em hipótese nenhuma, que o tabaréu do sítio Saracura é, antes e acima de tudo, um escritor de mão cheia, autor de uma penca de livros da melhor qualidade, e, mais do que isto, um divulgador incansável e irrequieto de sua obra, a viver com os caçuás superlotados dos suas produções literárias, para divulgá-las onde quer que chegue.






Nenhum de nós carrega esta força, esta pujança, este fôlego de editar livros e reeditá-los, em tiragens diversas, melhorando-os, enxertando-lhes opiniões críticas, nem nenhum nós, membros de academias de letras, seja esta, a mãe de todas, soberana e imponente, sejam as suas filhas, nascidas nas plagas interioranas - como a de Itabaiana, da qual me integro como um dos seus fundadores e da qual o acadêmico Antonio Francisco de Jesus [permita que o trate assim, pois foi assim que o conheci há milênios de anos atrás na Biblioteca Pública Dom José Thomaz, da Paróquia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana] também faz parte, - carrega nas veias a disposição para comparecer a toda instalação de academia, a toda posse, individual ou coletiva, a todo lançamento de livro, a todas as bienais que se faz nesse país, inclusive em Maceió e em São Paulo, como o acadêmico Antonio Francisco de Jesus.

É admirável a sua ligação com o livro, como leitor, incentivador, e, sobretudo, como autor, inclusive, autor que busca sempre se aprimorar, rezando pela linguagem leve, direta e clara, abrindo passagens no meio das pedras, para delas tirar leite, como fez, em particular, com Os tabaréus do sítio Saracura, livro de estréiaa trasladar para cada capítulo a vida de sua família e de seus parentes, a sua vida, de menino que não conseguia se adaptar a faina da enxada, contando os fatos ocorridos ali, no seio da família, sem nada esconder, colocando todo o cenário de ocorrências na vitrine das páginas de um livro, sem vergonha de dizer que o irmão comia areia, nem que o pai, com o tempo, passada o mel dos primeiros anos de casamento, não permitia mais que a esposa, mãe do autor, fosse a Matapoan, ao sítio do pai, no domingo, na costumeira visita, montada no cavalo, deslocamento que, doravante, teria de ser feito na perna.

É incrível como consegue escrever o romance de sua família, contando tantos fatos banais de modo tão atraente, a ponto de ir conquistando o leitor e criando nele a seiva de intimidade com os seus. E eu, a lê-lo, fui conhecendo todos os tabaréus do sítio Saracura, e me tornando amigos de todos, enchendo-me de interesse pela leitura, devorando capítulo por capítulo, desejando que o livro não tivesse seu final. Depois, extravasei meu entusiasmo em artigo que publiquei no Correio de Sergipe.
Foi meu erro, segundo o acadêmico Antonio Samarone Santana, seu primo carnal, porque a partir daí, com o artigo em mãos, o acadêmico Antonio Francisco de Jesus não parou, sapecando livro a três por dois, como a gente diz lá, na nossa Itabaiana, que eu fui, ante cada um, saudando pela imprensa, até que, no último, ele me reclamou um artigo, e eu, confesso, não o fiz, receoso de me repetir ante tantos elogios já emitidos.

A culpa não foi minha, acadêmico Antonio Samarone Santana.

Eu, tão exigente na crítica daquilo que leio, desde as peças literárias às peças jurídicas, e, nestas, as acadêmicas que a atividade jurisdicional de quase quarenta anos me obriga, tão cioso do que tenho de escrever em despachos, decisões, sentenças, e agora votos,   apenas me deixei seduzir pelo canto de Os tabaréus do sítio Saracura, não conseguindo evitar o elogio que fiz publicar.

Entretanto, aproveito aqui, nesse momento solene, para revelar o nome do culpado de tudo que estamos a presenciar na obra literária do acadêmico Antonio Francisco de Jesus, esperando que o delito não esteja prescrito, para o Ministério Público poder ainda ingressar com a ação devida.

O culpa foi o senhor cônego José Carvalho de Souza, na direção do Seminário Menor, mesmo o jovem tabaréu da Terra Vermelha tendo sido reprovado na prova de admissão ao ginásio, tabaréu que falava autenticamente errado e era fofoqueiro, mantendo-o no Seminário Menor, como se o Senhor das Letras tivesse lhe iluminado e dito: Deixe esse menino, aí, Senhor Reitor, que de sua pena, em breve, nascerão belos e substanciosos livros, e, um dos quais, sobre o Seminário.

E o Senhor Reitor deixou, de modo que a pedra grosseira e tosca foi preparada, aos poucos, para dar lugar a um diamante, e fruto dessa lapidação lenta e consentânea, aquela árvore foi se enchendo de folhas materializadas em projetos, que, só recentemente se transmudou numa série de bons livros. 

A Literatura Sergipana tem muito a agradecer ao Senhor Reitor do Seminário Menor, o cônego José Carvalho de Souza.
 
O certo, Senhor Presidente e Senhores Acadêmicos, é que estamos a vivenciar a posse de um dos mais produtivos escritores sergipanos, de um homem que, sufocando a vida inteira a produção literária, não conseguiu mais segurá-la a partir de certo momento, e se rendeu as evidências do seu talento, passando a transportar para o papel tudo aquilo que sua mente deliberava, no que acrescenta as letras sergipanas o que dela mais de lírico e de suave tem, na poesia de seu texto, na leveza de seu estilo, nessa forma natural e espontânea de contar os fatos, que a impressão que se tem, se capta e se guarda, é que o leitor está a ouvi-lo, sentado num tamborete, no terreiro de uma casa, cercado, aos lados, de plantações de tomate, cebola, macaxeira, batata, e, principalmente de mandioca, na exposição de histórias, sem aquela preocupação de fazer literatura, embora faça, falando e contando, palito nos dentes, a camisa com alguns botões abertos, a mãos cheias de calos da enxada, o chapéu sempre na testa para proteger a cabeça das inclemências do sol. 

Esta característica persegue seu texto, desde a estréia em livros com Os tabaréus do sítio Saracura, 2008, depois nas crônicas de Minha querida Aracaju aflita, 2011, depois nos Meninos que não queriam ser padres, 2011, depois em Tambores da Terra Vermelha, 2012, por último, em Os Ferreiros, 2015, como estará presente nas produções futuras que seu gênio produtivo ainda irá gerar, agora que alcança uma cadeira nesta Academia, fazendo conhecido e amigo de todos, pelo nome do  sítio Saracura, que já incorporou ao seu, como título maior que carrega, ele, itabaianense da Terra Vermelha, com sangue dos ferreiros nas veias, de façanhas singulares, imortalizados no seu último livro.   

Senhor Presidente e Senhores Acadêmicos,  o acadêmico Antonio Francisco de Jesus é o que o rol de seus livros revela: um tabaréu que, aos poucos, foi sendo lapidado, aprendendo a ler e a devorar livros, ainda que escondidos da vigilância do Senhor Reitor do Seminário Menor, iniciando-se na arte de escrever na poesia - e dele, dos tempos de seminarista, ainda me lembro de um poema sobre as duas torres da Igreja de Itabaiana, torres solitárias, salvo engano, - e, adentrando na prosa, arquitetou motivo para seus livros durante toda a vida, e, só então, ao ingressar na maré mansa do outono, deixar explodi-los numa perfeita sequência cronológica, exibindo, em cada um deles, a tosca poesia de quem soube substituir a enxada por uma caneta, e, assim, em lugar de se tornar um plantador de cebola e vendedor de feijão no Mercado do Aracaju, galgou, via do livro, a gloriosa condição de ser um dos mais fecundos e produtivos escritores do território de Sergipe del Rey.

Ei-lo que chega, e chega para ficar nesta Casa, que, para sua maior glória, Senhor Acadêmico Antonio Francisco de Jesus, passa a ser sua também, porque foi feita para abrigar aqueles que carregam no peito a disposição de escrever e publicar livros.

Mui obrigado.

xxx
Observação

Trazido do Sobre Livros Lidos em 04/10/2023 com  2081 leitores