terça-feira, 3 de outubro de 2023

2019nov05 bienal do livro de Maceió

 2019nov05 bienal do livro de Maceió, a difícil arte de vender livros(1).



Bons amigos nascerão certamente quando cada um dos que levaram para casa meus livros lerem e se encantarem. Estou mais no Palácio da Associação Comercial acolhido pelas academias de letras, que me deram um cantinho para guardar minha mala de livros. Não sei se devo oferecer meu produto aqui, talvez tomando clientes dos imortais que lançam livros. Então saio andando, como penitente, pelas ruas e pelos espaços que a Bienal ocupa, são muitos e um tanto dispersos. Minha esposa navega melhor do que eu vai me orientando. Ela é minha esperança e segurança nessas aventuras.

Amanhã à noite, vou ocupar, oficialmente, a sala de lançamentos reservada a autores independentes (sem editora), a praça de autógrafos Paraiso de Papel. Fui conhecer o ambiente, ver o que me espera. Lá estava Rafael, que conheci em Paulo Afonso e em Itabaiana, neto do poeta de Cristo; ele é repentista e anima qualquer festa. Também Jorge Calheiros (estrela maior do cordel alagoano), Alexandra Lacerda, Sylvano Gabriel e outros cordelistas... Era a vez dos poetas. O espaço estava vazio enquanto os standes da editoras e livreiros, num plano mais baixo, fervilhava de gente comprando. Nem Rafael com sua viola afinada fazia o povo subir os degraus da catacumba romana.

Quero ver como vai ser na minha vez, pois nem tocar ou cantar eu sei. 
É certo que trago três santos fortes: Pássaros do Entardecer, Minha querida Aracaju Aflita e Os Tabaréus do Sítio Saracura. Mas apenas eu sei disso, ou faço de conta que sei. (Antônio Saracura).


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2019nov04 bienal do livro de Maceió, a difícil arte de vender livros(2).


Ao meu lançamento, na Praça de Autógrafos Paraísos de Papel (uma catacumba romana na entrada dos banheiros do Armazém do Porto), foi pouca gente demais. Apenas Rafael Neto, violeiro repentista de Aracaju que corre mundo e de quem já falei acima; Silvano Gabriel, cordelista e ator consagrado aqui das Alagoas que já leu Meninos que não Queriam ser Padres; Dartanham Holanda, escritor com quem fiz amizade na 8 bienal; o lampiólogo Voldi de Moura, autor de “O Nascimento de Maria Bonita”, que corre o sertão fazendo divulgação; e minha esposa, Cida, que não teve como escapar. Vieram em solidariedade, que muito agradeci, pois animaram minha monotonia, que foi geral ali.
Troquei livros com dois dos seis autores que estavam em lançamento no mesmo horário, os demais prefiram ficar duas horas chupando dedo, como todos ficamos, e retornar para casa com sua ração de cupim ainda lacrada.

Alguns leitores (achei que seriam) passavam correndo, indo aos banheiros segurando a bexiga ou retornando enxugando as mãos, nem quiseram conversa, estavam pressionados por mil urgências, depois viriam. Jamais vieram.
Então, outra vez só, fui oferecer meu livro na feira que fervia em frente, em um nível mais baixo, saindo da catacumba. Abordei perto de vinte pessoas que me pareceram dignas e comprar um livro do próprio autor. Não eram, infelizmente. Retornei à base para cumprir a disciplina, meu horário esgotava-se às vinte e uma e trinta.

Além das duas trocas (Godi, de Fabio Ferreira, e, O Pai Artur e sua Jangada, de Maria Celine Malta), dei “Minha querida Aracaju Aflita” a Dartanhan. Apenas isso para uma segunda-feira de expectativa e bem divulgada, pois meu nome constava de programação e um serviço de alto falante rouco falava da minha obra de quando em quando. Além do que publiquei na rede social “Gente da Gente” um convite tentador.

Aqui nessa bienal espalhada pelo bairro inteiro do Jaraguá, há ilhas isoladas onde nenhum navio atraca. A rua Sá e Albuquerque, entre a Praça da Igreja e o Palácio Museu do Comercio, cabia, em uma das calçadas, os cordelistas com suas banquinhas, os autores independentes divulgando sua literatura (meu caso) e muito mais.

Pensam que vou desistir? Não vou. Antes desistiria de escrever e publicar livros. Vim de tão longe pra quê?

Maceió tem praias paradisíacas. É pegar o petróleo e fazê-lo de bronzeador. Criar ânimo para atacar a Bienal amanhã de novo. Um flanco fraco deve haver, pelo qual a nossa literatura flua fácil; deve haver alguma maneira de fazer as pessoas se interessarem pelos livros publicados aqui. (Antônio Saracura)


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2019nov05 9 bienal do livro de Maceió, a difícil arte de vender livros(3).



Estou hospedado no hotel Saint Patrick, na Jatiúca, ouvindo mais o mar do que o povo zoando no Jaraguá. Mas tanto o marulho na praia como o barulho na Sá e Albuquerque me encantam por igual. Depois do lançamento frio ontem, retornei, estranhamente animado, ao final da tarde de hoje à Bienal do livro.

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Já estou me acostumando com o Palácio do Comércio, onde as Academias Alagoanas me acolherem e até estou me sentindo à vontade entre os imortais deste céu; também com o Armazém onde ferve a feira de livros cheias de títulos a partir de um real; com as oficinas dos cordelistas (a maioria teve que sair pelas ruas anunciando seus livrinhos mágicos), com o Arquivo Público, o Iphan, o Misa, a Praça dois Leões, teatro Homerinho, Beco das Raparigas... Por estes lugares vou plantando minhas sementes e já colhendo frutos. 
Fiz permutas de livros, encontrei leitores que agradeceram a oportunidade de levar para casa um livro autografado. Conversei com cada expositor que me abriu a janela. 

Sentado na Praça dois Leões, pegando uma fuga, conheci Zahira, uma senhora de Piracicaba que desenvolve um projeto cultural no povoado Boca do Rio, aqui em Maceió. Ela me falou de uma Geloteca que tem lista de espera. Zahira veio à Bienal buscar livros para seus agoniados leitores. Levou os meus, de brinde, autografados. Eu queria ir ver a cara feliz dos seus leitores, mas já era dez da noite, hora de retornar ao hotel; e Cida me acenava para ajudar a carregar sua sacola abarrotada de livros que comprara no Armazém, a preço de banana. (Antônio Saracura).





2019nov07 Bienal do livro de Maceió, a difícil arte de livros (4)


(não disponível).



2019nov10 Bienal do livro de Maceió, a difícil arte de vender livros (5)



Nas bienais, as pessoas querem conversar com os escritores locais, os que contam as aventuras de sua gente, mas não os acham em canto nenhum, estão escondidos atrás dos postes ou nas quinas das esquinas fugindo dos fiscais de rua. Alguns deles disfarçam-se em vendilhões furtivos, clandestinos, correndo o risco serem defenestrados. A maior parte assiste a festa com o coração partido: ”bem que meus livros poderiam estar desfilando aqui”.
Eu estou entre estes alguns e tenho a impressão de que sou o único nas bienais de São Paulo, Maceió, Fortaleza, às quais frequento. Nessa Bienal do Livro de Maceió, eu vendi (ou doei ou troquei) mais livros do que esperei. Circulei pela Sá e Albuquerque e seus equipamentos, mas não encontrei outro escritor garimpando leitor como eu fiz. As pessoas (quase todas) vão à Bienal e gostariam de levar pra casa um livro pelo menos. Muitas saem decepcionadas porque nenhum escritor sequer estendeu-lhes a mão ou sorriu-lhes oferecendo um livro.

A Bienal do livro de Itabaiana talvez seja a única no Brasil que reserva espaço nobre ao escritor independente, aquele que publica e que se dispõe a estar presente de corpo em alma. Na última edição (a quinta, ocorrida entre 11 a 15 de setembro do ano em curso) 250 escritores se inscreveram e divulgaram seus livros o tempo todo, sem pagar nada. A praça dos Escritores (como é denominado o espaço do autor independente) foi o coração da Bienal e atraiu leitores que vitaminaram as vendas em todos os demais segmentos.  A pequena renúncia de receita foi recompensada mil vezes mais pelos empreendedores do evento.  (Antônio Saracura). 


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2019nov11 Bienal do livro de Maceió, a difícil arte de vender livros (final)



Fiquei encantado com o sucesso de público da Bienal do livro de Maceió. Nos dois últimos dias, o Jaraguá entupiu. O povo do mundo inteiro acorreu ávido. O livro é um ente mágico e atrai, amigueiro, até quem nunca leu um. Na Bienal do Itabaiana aconteceu o mesmo fenômeno, esperávamos cinquenta mil pessoas e tivemos mais de cem mil anotados pelos apontadores eletrônicos do shopping Peixoto. Em todas as bienais é assim.

Os escritores sergipanos, os que acham que seus livros merecem ler lidos, não podem ficar de fora das Bienais. Muitos nem se ligam na de Itabaiana que fica a quatro passos, o que é muito estranho. Então nem deveriam se chamar escritor.

Precisamos achar uma maneira de participar, legalmente, seja com um stand, que tenha nossa marca: Literatura Sergipana, Livros de Sergipe, ou outra que nos dignifique. Isso para o caso das bienais continuarem discriminando o autor independente, não lhes franqueando um espaço perene, enquanto a feira durar, o que é provável.
As trinta academias de letras instaladas, as revistas e a mídia, também as gráficas e editoras em atividade podem cobrir o custo de um stand.
Os autores assumiriam seus custos pessoais até com patrocínios buscados individualmente.

E temos Domingos Pascoal de Melo, guerreiro da Academia Sergipana de Letras, acostumado a coordenar a execução de grandes projetos de sucesso: instalações das academias literárias, Concursos literários, O Escritor nas Escolas, Escritor na Livraria, entre outros.
Eu me candidato a compor a equipe (espero que Pascoal me aceite, prometo colaborar mais) desse A Literatura Sergipana nas Bienais Literárias.

(por Antônio Saracura)


Fim finalmente

Obs
Migrado do blog  Antônio Saracujra sobre livros lidos onde havia 34 leituras em 03/10/2023

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