terça-feira, 3 de outubro de 2023

25 Bienal do livro de São Paulo

 25 Bienal do livro de São Paulo anotações de três dias


(Por Antônio Saracura, das academias Itabaianense de Sergipana de Letras)







Dia 09 de agosto de 2018

Cheguei pela manhã, deixei as malas no hotel Uniclass Centro (avenida Ipiranga,1152) e fui ao Anhembi, ver a Bienal.
Como previra: pouco público. Muito mais a estudantada. Corri os stands, pela metade. A feira está mais magra este ano, mesmo assim, imensa. Tive essa impressão!
Os cordelistas do Ceará vieram em peso com Arievaldo Viana, Paulo de Tarso, Chico Pedrosa (este morando em Olinda mas agregado à trupe) e mil outros.
Mesa de debate: 100 anos do Nascimento de Antônio Cândido, na voz de Valnice Galvão e Celso Lafer: fui agradecer, ao final, por me deixarem Antônio meu amigo íntimo. E como bem agradecer sem dar a cada um dos dois, Os Curadores de Cobra e de Gente? Nota 10.
Outra mesa: A Pós Verdade e Fake News, com Pablo Ortelado e Polyana Ferrari. Abaixei-me para escapar do exército de sites fantasmas digitais e de outros mistos com humanos servindo de escudos. Lá na minha cabeça, passou, O Número Zero, de Umberto Eco. É que a mídia escrita está toda contaminada. Os debatedores: caçadores de piratas, de hakers, de zumbis, no mundo da mídias, suspeito demais. Nota 10.
Após as dezenove, íamos fazer um lanche e retornar ao hotel, mas paramos (eu e Cida, minha esposa e anjo na guarda) no Grande Espaço Bic. Sala quase cheia de jovens de preto e debatedores (cinco) também. Diademas com orelhas atentas. Cruz estampada nos peitos. O mapa de programação já ficara jogado em algum canto atrás, não atinava bem o que fosse. Entramos, curiosos.  J. J. Tolkien e C. S. Lewis simplesmente desceram do céu e vieram apertar minha mão. Os cinco especialistas na obra desses magos conseguiram este feito espetacular. Na vasta linha do tempo sempre tem mais e mais. Amizade, Hobits, Elfos, Hurins, Anéis, varas, profundidade e detalhamento, provérbios, valores... Fantasia que faz pedras como eu pular no unicórnio e varar o mundo. Vou ler prioritariamente a obra de Tolkien daqui pra frente. Anotei os links onde os jovens debatedores mostram os diamantes. A editora Harper Collins vai nos dar toda a coleção do escritor inglês. Debate nota 10.
Retornamos ao hotel, ao porto fenício, junto à Santa Ifigênia, na Ipiranga, dormir, que ninguém é de ferro.

Dia 10 de agosto de 2018

Pela manhã, perambulei pela rua 25 de março (minha esposa comprava lembranças). A tarde, ela prosseguiu nas compras, agora na José Paulino. Eu fui ao Anhembi.
Casa ainda semivazia, apenas a estudantada, em grupos, se preparando para ir embora, arrumada em grupinhos, sentada nos vãos livres da entrada e pelos corredores.
Os Curadores de Cobra e de Gente estarão em algumas escolas paulistas, espero que encantando seus pequenos alunos. As Viciadas em Leitura fizeram uma festa especial e vão divulgar nos blogs que mantém.
O Espaço do Cordel e do Repente cada dia mais quente: declamações, lançamentos, shows musicais e bancas abarrotadas de livrinhos à venda. Poucos compradores ainda hoje (sexta-feira), é verdade! No final da tarde, Cacá Gomes e João Gomes de Sá encantaram o Anhembi inteiro.
Uma fila com centenas de ansiosos leitores e, lá, na frente, autografando, posando para fotos, dando três beijos verticais na cabeça e peito um homem careca, alto, branco. Conversei com alguns. Queria saber o porquê do sucesso. Nunca ouvira falar do autor e o livro tinha um título bizarro ao meu ver:  EXU NÃO É DIABO. Alguns mandaram eu entrar na fila, não podiam adiantar segredo nenhum. Mas eu não tinha tempo para esperar tanto a  minha vez.  
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Ainda bem que eu trouxe poucos exemplares de Os Curadores... A conta de doar. Se precisasse vender, nem sei como faria (ainda). Até os stands pequenos de pessoas físicas estiveram às moscas. Talvez amanhã e domingo o público comprador apareça. Sempre aparece! E se algum dos pequenos stands faltar, eu, como bem-te-vi, tomo conta da casa de João de Barro. Como fiz na Bienal de 2016. Mesmo que tenha apenas um exemplar para vender!

11 de agosto de 2018

Uma boneca veio quebrada, e Cida teve que retornar a 25 de Março agora de manhã. Fomos a pé e passamos no pátio do colégio onde São Paulo nasceu. A igreja São Bento estava aberta. Se o céu for assim tão belo e pacífico, preciso me esforçar para não o perder.
A 25 de Março e a loja Fernando pareciam um formigueiro. Fiquei pastoreando na calçada... De onde vem tanta gente e tanto dinheiro para comprar?
Ainda era cedo para o Anhembi. Deixei Cida no hotel arrumando as lembranças e fui rever meus pagos. Passei na Barão de Itapetininga (edifício Anhanguera, onde era o Espal da Petrobrás), no velho hotel Rivoli (onde morei meus primeiros dias aqui em 1970), no Teatro Municipal (que sempre me embasbacou) e na biblioteca Mário de Andrade, onde havia dois lançamentos de livros, que documentei. Na recepção, peguei as instruções para que meus livros possam morar lá também.
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Outra vez no Anhembi.
Até ontem, rodara todas as ruas e não achei o stand das Editoras Oficiais dos Estados. Também no Mapa dos Expositores. Senti-me, por isso, muito longe de casa. Queria ver expostos os livros de José Anderson Nascimento (Perfis) o de Claudefranklin Monteiro (Romanização da Igreja) e o Couro Curtido de Lourival Carvalho. Fiquei no querer. Hoje pela manhã, ao acordar, fiz as orações matinais, que sempre esqueço, e rezei mais um pouquinho na igreja São Bento. Logo que cheguei ao Anhembi, achei a Abeu (tem mais a ver com editoras universitárias) e a explicação por não ter achado ontem. O stand não tem portas para as duas ruas. O acesso é por uma nos fundos. Algum arquiteto quis inventar, certamente. E lá estavam expostos os livros da Edise, junto ao piso, na prateleira ao rés do chão. Para acariciá-los, tive que me ajoelhar. Meus joelhos estalaram... Depois, para me levantar, contei com a ajuda de um solidário visitante.

Comprei hoje o livro, Exu não é Diabo. Não entrei em fila, o autor, Alexandre Cumino, já se fora desde ontem não sei a que horas. Certamente recuperava a mão por tanto autografar. Eu tenho que saber que grude há neste livro. Alexandre tem 10 livros publicados sobre o mesmo tema, é sacerdote da Sagrada Ubanda, dá palestras virtuais e apresenta um programa de rádio: A Magia da Vida. Deve merecer! Além do que há, esse retorno das pessoas ao misticismo, caracterizado também na literatura.
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Nunca vi tanta gente em outra bienal, como hoje. Nem na de Itabaiana no domingo de encerramento. A população toda veio prestigiar a literatura. Ficou fácil eu vender os livros que sobraram das doações. Achei o local ideal, uma esquina do stand do cordel, afastado dos cordelistas, para não concorrer. Em frente ao caminhão que trouxe a poesia do nordeste para São Paulo. Vendi todos em uma hora. Bastou oferecer. Algumas pessoas nem ligavam, outras até viravam o rosto. Mas, vinte inteligentes pararam e compraram. Mais livros que eu tivesse. As pessoas vão a bienal comprar livros e saem de mãos abanando porque nenhum escritor oferece. Sequer olha o leitor. Eu tendo não cometer o mesmo pecado. Apenas isso!
Havia filas imensas em frente às bancas dos cordelistas, eles venderam bem. Havia outras filas para tirar fotos com ídolos, com palhaços caracterizados, em cadeiras mágicas, em frente à autores autografando, nos Caixas dos stands de vendas...
As filas dos banheiros femininos iam até a serra de Itabaiana. Quatrocentos mulheres no maior aperto e a fila não andava.

Já na saída, por volta das dezenove horas, entrei no Salão de Ideias onde o debate tratava de Literatura e Política. Luiz Rufato , que conhecia de outros trechos, e Julian Fuks, de quem nunca ouvira falar mas é um dos grandes escritores brasileiros. Descobri depois. Quando entrei, eles tratavam da falsa verdade, a ficção na primeira pessoa que o autor convence o leitor que tudo aconteceu realmente. Anotei algumas passagens: A flor inventada por Guimarães Rosa apenas para compor a sonoridade de uma frase, segundo confessa a um tradutor intrigado. Ninguém em Minas, nem no mundo, fala como os personagens de Guimarães Rosa. Só um, que não peguei o nome, passou a falar assim, depois que o livro foi publicado e as pessoas o procuravam pra perguntar coisas. Ele aprendeu, lendo o livro. Cervantes explica (na introdução do segundo volume) porquê resolveu escrevê-lo. O livro já circulava no desejo do povo.
Vim embora às dezenove horas e ainda chegava gente ao Anhembi. Muitos estavam saindo também. A fila para o ônibus não tinha fim. A de táxi me segurou mais de meia hora. Graças a Deus, chegou minha vez. Meus pés doíam, não tenho mais idade para essas estrepolias.
Descemos na esquina da Ipiranga com a Rio Branco e entramos no restaurante, O Sujinho, sessenta anos de história e uma comida deliciosa. Pelo menos, estava o salmão grelhado. Para quem comeu pão de queijo empedrado, baurú suspeito e feijão com carne cozida nos bares da bienal e ao lado do hotel, esse jantar foi um banquete de lua de mel.
Desculpe o texto comprido. Mas ainda tem a conclusão.
Sergipe, com tanta academia instalada, com tanto órgão ligado regimentalmente à cultura, com tanto escritor cheio de livros encalhados, com tanta editora (gráfica) imprimindo, bem que poderia ter um stand em cada bienal que acontece pelo Brasil. Uma maneira de nossos livros fugirem do ostracismo, das colônias de cupins, das fogueiras dos herdeiros. Ganhar o seu espaço (que está quase vazio no cenário da literatura brasileira).
O caminhão dos poetas do Ceará, o único veículo estacionado dentro da feira, à frente do qual eu armei minha barraca virtual para vender Os Curadores de Cobra e de Gente, estampa, na lateral da carroceria, logomarcas de patrocinadores da aventura cordelista: Caixa Econômica Federal, o Banco do Nordeste, editora Imeph.
Nós também podemos.

Por Antônio FJ Saracura
Observação: em 03/10/2023 trazido do sobre livros lidos, havia 60 visitas.

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