quarta-feira, 4 de outubro de 2023

VII BIENAL LIVRO DE ALAGOAS (feira),

 VII BIENAL LIVRO DE ALAGOAS (feira), Antônio Saracura, novembro de 2015, em Maceió Alagoas



Acho que o escritor tem a obrigação de divulgar suas obras. De que valeu o esforço imenso de criá-las, o custo sacrificante de publicá-las e, ao final, não ser lido? Muitas moças casam com vizinhos simplesmente porque os pais não as levaram aos salões da sociedade. Não que os vizinhos sejam ruins maridos! Mas as moças poderiam ter casado melhor. O autor (ou  seu preposto, como a editora, o marketeiro) tem que divulgar seus livros. Nenhum leitor é adivinho para saber que ele acabou de publicar de novo.
Considero meios para este fim:  os Encontros Literários (que envolvam público em geral, não apenas autores), as Feiras literárias, as livrarias da cidade, os cadernos culturais da imprensa, as redes sociais. Por isso procuro frequentá-los. Por isso fui a VII Bienal do Livro de Maceió, entre os dias 27 e 29 de novembro último (2015). Os três últimos dias dos dez que a compôs. Fui até à de São Paulo, que aconteceu no ano passado. E à de Paulo Afonso... À feira de Itabaiana eu sempre vou.

Xxx

Como divulgar minha literatura em Maceió? Eu não conhecia ninguém, não possuía base de apoio (até tentei pela internet uma livraria, Beabá, mas não concluí a parceria). Ainda em Aracaju, busquei alternativas e obtive uma vaga promessa de um espaço na praça de autógrafos. Duas horas no meio das feras, na arena dos leões era pouco demais. Para ficar sozinho, quanto menos tempo melhor, consolava-me. Eu tinha agora, pelo menos,  uma desculpa para não desistir,  e fui em frente.

No dia 27 entrei no pavilhão Ruth Cardoso já depois das 15 horas. A viagem e a arrumação de pousada (fui com minha esposa dedicada) atrasaram-me além do que gostaria.  Muita gente circulando, os corredores cheios; ruas imensas de stands, quase todos vendendo/divulgando livros. Depois me falaram em uma centena.  Circulei em busca de gente conhecida, para ancorar um pouco. Era uma terra estrangeira, apesar de tão perto de Aracaju. Temi ter perdido a viagem de vendedor, então me contentaria com a de observador. Ou seria turista, algo mais passivo. Havia o mar azul de Maceió a desfrutar. 

Já que me alistara para a guerra, peguei minhas armas, meus panfletos (simpáticos marcadores de página com informações sobre meus livros) e, timidamente, ou falsamente tímido, comecei a entregar a um e outro por quem passava. E fiquei nesse labor até as 21 horas quando retornei ao hotel. Colhi alguns frutos, como um papo ligeiro com alguém que me perguntou por que fazia aquilo. Apesar de estar com meus livros na sacola que carrega nas costas e tê-los mostrado aqui e acolá, não vendi nenhum neste primeiro dia. Mas dormi satisfeito, pensando e confiando na missão dos dois dias seguintes.

No sábado pela manhã fui à praia e apenas após as 15 horas  à Bienal. Mudei a sacola das costas para o peito, escondendo a barriga saliente. Ficava mais ao alcance, e formava uma mesinha na qual expus os dois títulos que levara: Os Tabaréus do Sítio Saracura, e Os Ferreiros. 
E comecei a trabalhar.
Estudava as pessoas, o jeito, a postura, tanto visitantes como expositores. Timidamente, mas com firmeza, entregava-lhes o marcador de página e tentava uma conversa. Consegui muitas vezes, e oferecia meus livros como uma boa e agradável leitura.Não estava enganando, pois gosto deles. O vendedor que não oferece seu produto, certamente não venderá. 
Vendi alguns livros, autografei.
Também conversei com editoras, anotei contatos, comprei livros a um real (ou mais um pouco), assisti palestras (Jessier Quirino), fiz amizades. Finalmente encontrei pessoas conhecidas (Samuel Albuquerque, do Instituto Histórico de Sergipe; Edivaldo Feitosa, de Água Branca que conhecera em Paulo Afonso; Ron Pelin que é Ronaldo Pereira, consagrado autor de A Menina das Queimadas; e um ex-funcionário da biblioteca volante do Sesc de Aracaju (esqueci o nome, mas comprou Os Ferreiros porque Os Tabaréus ela já tinha em casa).
O domingo foi igual ao sábado, já me sentia senhor de meus passos e de minhas investidas. Quando chegou minha vez na praça dos autógrafos, o público já saía da feira, ia embora devagar. Bem que Antenor Aguiar (fora à Bienal nos dois primeiros dias) vaticinou: quando chegar sua vez, a Bienal estará vazia.
As mesinhas reservadas para os escritores darem autógrafos estavam todas ocupadas desde o começo da tarde, eles queriam continuar tentando vender. Eu estudara antes o espaço, a mecânica do lugar, ao passar algumas vezes por ali. Havia uma escada mais à frente e a usei, arrumando meus livros nos degraus da lateral exposta à alameda por onde saiam todos indo embora. Afixei um banner no ponto mais alto que alcancei. Estava montado o cenário e comecei a atuar, abordando as pessoas, tomando suas frentes com meus marcadores, meus livros e minha pregação. Algumas paravam, ouviam, compravam o livro de despedida, a saideira da sorte.

Os autores das mesinhas vieram me chamar para perto deles. Deram-me um cantinho, compartilhando o espaço. Continuei meu trabalho, contaminei o grupo. Ficamos, eu e os escritores, até 22 horas, quando os stands já estavam sendo desarrumados. E então, como não havia mais comprador, trocamos livros uns com os outros, selando uma amizade que certamente será duradoura, estaremos em outras bienais por esse mundo afora. Serão meus pontos de apoio, mesmo que, como eu, sejam tábuas perdidas do meio do mar. 

Trazido do Sobre Livros Lidos em 04/10/2023 com 47 leituras

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